quinta-feira, 8 de outubro de 2009

TINHA O TEU BEIJO NO BANCO DA PRAÇA

Tinha o teu beijo no banco da praça,
Limpa,
Cheinha de pássaros e rosas.
Você vinha e eu deitava minha mão na sua,
Como se há tempos carecesse de sonhos.
Ruflava uma brisa nos seus cabelos,
Eu te alisava feito a uma lâmpada mágica.
Éramos o gênio e o desejo na praça.

AQUARELA

Pela beira do lago
Há letras lilases
Nas palmas das flores

Então, trouxe, encantado,
Um pedaço de cada
Palavra mais doce

Aos teus olhos e
Cabelos dourados,
Castanhos, macios...

E fiz uma valsa
Dourando o caminho
Para te lembrar

Sinais nas areias,
Nas pedras, nas casas
Para te guiar

Fiz barco de estrelas,
Abóbada imensa,
Para te levar

- E fizemos de tudo pela beira do lago –

Então, trouxe, encantado,
Um pedaço de cada
Palavra mais doce

Para pôr na boca
Do meu novo amor !

Taubaté, abril de 2007.

GAIA

Fomos gerados da Terra
e jogamos o jogo
que ela joga consigo.
Isso é fato.
Agora mesmo, Gaia e Urano estão jogando.
Com suas células
seus átomos e estrelas
suas guerras e moscas.
E o tempo é que
tece a sua teia nas mentes
tece a sua teia nas órbitas
tece a sua teia e pinta a face de Gaia, as vísceras dela.
Deus é o tempo,
comandando tudo.
E Gaia joga
com as armadilhas nossas.
Que são nossas, mas que são dela.

FUTIL

Busquei na boca sua
Uma palavra...
Ela pendurada
Rente a seu seio,
Você muda
Muda de sentido
Muda sem flor
Apenas muda
Neutra e fria.

ESSE É O LADO DO DIA QUE A GENTE NÃO APALPA

Esse é o lado do dia que a gente não apalpa.
E enquanto o trem passa,
Acordando as crianças,
A gente disfarça,
Cavoucando esperanças.

BABA

Babo-te toda
A baba da tua boca louca
Babando no meu corpo...
Babada em tua boca aberta,
A baba da tua boca,
Babando-me com a tua baba minha

RUPESTRE

A gente tinha palavras pra cada sopro de chuva
Eram afagos de cantos nas águas
Na ribeira nua
Fazendo carinho na barriga das pedras

Foi ali e tudo

Foi ali que desabrochaste a flor,
Deitando nos meus galhos,
O sabor das tuas águas claras, teu calor...


Taubaté, 05/05/2007.

A SALA

Em frente à janela, gradeada, de cortinas floridas.
Em meio à sala (aonde todos iam).
Ali, parado.
O sol vazado, tapete macio,
O cheiro impecável da madeira dos tacos.
Ao fundo, o quarto misterioso e desejado de minha avó.
O quarto onde ouvia histórias e meu corpo, seguro, se abrigava, quente, sob a manta: o “forninho” adorável.
Naquela sala, inalcançável mundo de tantos (onde vivi feliz !),
Eu tudo olhava, espantado, miúdo, infantil, captava tudo...
Ali, entre os livros e os quadros,
Eu me lembrava qual era a esquerda e
Qual era a direita do mundo...

FILOSOFIA DA INFÂNCIA

Ficávamos, horas,
Deitados,
As costas no asfalto,
Despidos de qualquer vontade de razão.

Olhávamos tudo em detalhes:
O céu, o azul do céu, as plantas,
Os pássaros...
A infância em sua infinitude
Tentando alcançar a grandeza do planeta,
Alçar vôo, romper o céu,
Deitados, imóveis.
Inocência em sua infância.
Os sons cheirosos do almoço,
O muro baixo e Juliana...
Tudo completo.
Tudo sentido.
A minha infância.